Muito tem se falado sobre o exame retal digital ou “toque retal” para diagnóstico de câncer de próstata. Para uns, ele é fundamental, para outros, desnecessário. Afinal qual é o seu papel? A resposta está no meio do caminho: o toque retal (TR) tem sua função em determinadas circunstâncias.
O rastreio do câncer da próstata evoluiu significativamente, e as diretrizes e evidências atuais vem sugerindo um papel limitado do toque retal como ferramenta ISOLADA para avaliar a próstata.
A principal modalidade de rastreamento do câncer de próstata é o teste do antígeno específico da próstata (PSA).
Trata-se de uma proteína no sangue dos homens, cujos níveis estão relacionados à próstata: por exemplo nos casos de câncer, o PSA está elevado. E, quando necessário, adiciona-se uma ressonância nuclear magnética.
Porém, o toque retal tem sua função em determinados contextos.
Por exemplo, pode ser útil na avaliação de pacientes com níveis elevados de PSA para avaliar o risco de câncer de próstata clinicamente significativo, ou seja, nos casos em que devem ser tratados.
Em homens com níveis de PSA superiores a 3 ng/mL, um toque retal suspeito está associado a uma maior probabilidade de câncer de próstata.
Além disso, o toque retal pode fornecer informações prognósticas no estadiamento do câncer de próstata, particularmente na avaliação das subclassificações do estágio clínico T2, que demonstraram ter valor prognóstico independente.
Existem ainda exemplos de situações isoladas que ajudam a ilustrar o impacto da consulta urológica.
São casos de segmento de pacientes com PSA aparentemente normal, ou seja, dentro dos limites estabelecidos, mas com antecedentes “urológicos” significativos.
Isso porque os valores inseridos nos laudos de exames se referem a pacientes sem doença prostática.
Caso o paciente tenha um antecedente de cirurgia ou alguma outra alteração da próstata, os valores dentro das referências normais do laboratório não serão válidos.
Avaliação de um urologista é fundamental no exame de toque retal
A avaliação de um especialista é fundamental no quadro acima citado. E um simples exame de TR pode esclarecer em muito as condições do paciente.
Outro papel do toque retal, e talvez o mais importante, é trazer o paciente para o urologista.
A urologia é a especialidade da medicina mais habilitada a tratar alterações miccionais, hormonais, e de desempenho sexual nos homens.
Muitos não se sentem confortáveis de dividir alguns sintomas com outros colegas, especialmente a vida sexual.
Além de constrangedor para muitos pacientes, envolve o relacionamento do casal, com a toda complexidade que acaba tendo que ser exposta durante a consulta.
Já para o urologista, trata-se de uma situação do cotidiano da sua especialidade. Isso permite uma abordagem mais próxima e prática.
Sem dúvida alguma, a urologia é a especialidade mais preparada para examinar os genitais masculinos, que podem apresentar desde uma alteração simples, de pele por exemplo, como câncer de testículo ou de pênis.
É muito raro que outro médico ou médica faça esse tipo de exame físico. E queixas nessa parte do corpo ocorrem com frequência nos consultórios urológicos.
Enfim, o toque retal está inserido na ampla avaliação da próstata, e dentro da consulta urológica. A decisão de ser feito deve ser sempre compartilhada com o paciente!
Toque retal x ressonância magnética

O exame de toque retal consiste na verificação da parede retal do paciente, realizada por um urologista, que insere um dedo através do ânus do paciente. Isso faz com que o médico tenha acesso à glândula prostática, ajudando-o a encontrar possíveis sinais de câncer.
Este tipo de exame foi o único método disponível para verificar a existência de câncer da próstata até 1986, quando surgiu o exame de antígeno prostático específico (PSA, na sigla em inglês), feito com sangue extraído do paciente.
O exame de toque retal pode também ser utilizado para detectar outros tipos de câncer, como o retal e anal. Ele pode, ainda, servir para verificar se há fezes retidas em pessoas com prisão de ventre e em outras circunstâncias.
Nas mulheres, o exame de toque retal é usado para verificar a ocorrência de câncer, incluindo a disseminação de câncer do ovário.
Se executado corretamente, o exame de toque retal não deve ser desconfortável. E a privacidade e a boa comunicação entre médico e paciente podem ajudar a superar um eventual constrangimento.
A próstata é uma glândula do tamanho de uma noz. Ela fica na pélvis e rodeia a uretra quando ela sai da bexiga.
Convenientemente, ela fica ao lado do reto e é facilmente percebida pelo dedo durante o exame.
Caso esteja inflamada, como no caso da prostatite ela fica sensível.
E, quando há crescimento benigno da próstata, o que acontece na meia-idade e causa retração do fluxo urinário, a próstata irá parecer inchada.
No caso de câncer da próstata, a superfície pode ser irregular e a textura firme ao toque. Mas é muito comum que o câncer da próstata não seja detectado nos estágios iniciais da doença.
Ressonância magnética substitui o toque retal?
A dependência excessiva da tecnologia é considerada um desperdício dos escassos recursos disponíveis. Além disso, aparentemente, os pacientes acreditam que seus médicos têm experiência em diagnósticos clínicos.
Mas existem momentos em que a tecnologia oferece maior precisão para encontrar doenças, especialmente quando elas estão em estágio inicial.
A ressonância magnética fornece imagens detalhadas de estruturas corporais.
Ao contrário do raio X e da tomografia, não usa radiação ionizante e é segura. É também eficaz para detectar o câncer da próstata no estágio inicial e para monitoramento da doença.
Por outro lado, a ressonância magnética é cara, as máquinas têm grande volume, consomem muita energia e normalmente são restritas aos hospitais e clínicas especializadas. Isso limita seu uso.
O câncer da próstata, quando detectado tardiamente, espalha-se facilmente para os ossos e não é incomum que a doença não diagnosticada se manifeste com dor nas costas, quando o câncer já se espalhou para as vértebras.
E, se houver a suspeita, eventuais resultados positivos no exame retal podem levar a um diagnóstico mais precoce e menos atrasos para o início do tratamento correto.
Por isso, é certo afirmar que um exame de ressonância magnética não deve substituir o exame de toque retal. Ambos podem, isso sim, caminhar juntos!
O exame de toque retal funciona bem, ainda, para o câncer retal. Se o tumor estiver em local acessível para o exame de toque, é possível detectá-lo em quase 80% dos casos.
Para a prisão de ventre, a descoberta de fezes no reto pode eliminar a despesa e a exposição à radiação das investigações modernas, que substituíram o raio X do abdômen pela tomografia computadorizada, usando radiação.
Por tudo isso, pode-se afirmar que o exame retal não está morto, pelo contrário: é um exame barato que fornece informações úteis, quando realizado e interpretado de forma correta.