O uso esporádico da maconha pode induzir efeitos agudos desejados, como euforia, relaxamento, sedação leve e aumento do apetite. Entretanto, também pode causar prejuízo transitório da memória de curto prazo, concentração e coordenação psicomotora, além de aumentar o risco de ansiedade, ataques de pânico e paranoia, especialmente em doses mais altas ou em indivíduos vulneráveis.
Sintomas psicóticos agudos, como alterações perceptivas e alucinações, são menos comuns, mas podem ocorrer.
Fisicamente, pode haver taquicardia, hipotensão ortostática, boca seca, hiperemia conjuntival e, em casos raros, arritmias cardíacas, incluindo fibrilação atrial e taquicardia supraventricular.
O uso esporádico, independentemente da via, está associado a aumento do risco de acidentes automobilísticos devido à diminuição da capacidade de dirigir, com elevação do risco de acidentes em 30–40% após uso recente, comparável ao efeito de álcool em níveis moderados.
Quanto à via de administração, há diferenças relevantes:
• Fumar (inalação): Os efeitos iniciam em poucos minutos e duram cerca de 3–4 horas. A via fumada está associada a sintomas respiratórios agudos, como tosse, sibilos, dispneia e aumento da produção de escarro.
Pode exacerbar quadros de asma e, embora os dados sobre risco de doenças pulmonares crônicas e câncer de pulmão sejam conflitantes, há maior percepção de risco respiratório com produtos combustíveis.
• Ingestão oral (edibles): Os efeitos iniciam entre 30 minutos e 3 horas após o consumo, com duração de 8–12 horas.
A ingestão está associada a maior risco de intoxicação inadvertida, devido à absorção mais lenta e imprevisível, e pode causar sintomas cardiovasculares e psiquiátricos mais intensos em casos de superdosagem.
Edibles são mais frequentemente associados a visitas ao pronto-socorro por sintomas cardiovasculares e psiquiátricos agudos, enquanto a via inalada está mais relacionada à síndrome de hiperemese canabinoide em usuários crônicos.
Uso esporádico da maconha: benefícios
Em relação aos benefícios do uso esporádico da maconha ele pode promover sensação de bem-estar, redução transitória de ansiedade e melhora do humor, mas esses efeitos são variáveis e não há consenso robusto sobre benefícios clínicos em usuários ocasionais fora de contextos médicos específicos.
A percepção pública tende a superestimar benefícios, como alívio de dor e ansiedade, em relação ao que é sustentado pela literatura.
Os malefícios do uso ocasional incluem risco de acidentes, prejuízo cognitivo agudo, sintomas psiquiátricos transitórios e efeitos cardiovasculares, além de potenciais efeitos respiratórios na via fumada.
O risco de dependência é baixo em uso ocasional, mas existe, especialmente em indivíduos predispostos.
Em mulheres, há evidências de que o uso recente de cannabis, mesmo sem ser diário, está associado a maior prevalência de incontinência urinária de esforço, urgência e mista, com risco aumentado já observado em usuárias que relataram consumo nos últimos 30 dias.[1]
O risco é mais pronunciado em usuárias frequentes, mas não está ausente em exposições menos intensas.
Em relação à bexiga, estudos populacionais indicam que o uso regular de maconha pode ser fator de risco independente para sintomas de bexiga hiperativa, incluindo urgência, frequência e noctúria.[2]
Embora o impacto do uso esporádico não seja diretamente quantificado, não há evidências de efeito protetor, e a associação parece ser dose-dependente.
No contexto masculino, revisões sistemáticas e estudos populacionais apontam que o consumo de cannabis pode afetar parâmetros seminais, como concentração e contagem de espermatozoides, além de morfologia e motilidade.[3-4]
O efeito é mais evidente em usuários regulares, mas não pode ser descartado em usuários ocasionais, especialmente em populações jovens e de idade reprodutiva.
Uso da maconha: benefícios e riscos
Em resumo, o uso ocasional de maconha pode causar efeitos psicoativos e físicos agudos, com riscos e benefícios que variam conforme a via de administração.
Fumar está mais associado a efeitos respiratórios, enquanto a ingestão oral apresenta maior risco de intoxicação inadvertida e sintomas cardiovasculares/psiquiátricos mais intensos.
O risco de dependência e efeitos adversos graves é baixo em uso esporádico, mas não nulo, e deve ser considerado especialmente em populações vulneráveis.
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